Thursday, March 27, 2008

O que é segurança para um canadense

Quando estivemos no Canadá em 2006 (como o tempo passa rápido!), pudemos ter a nítida impressão de como os canadenses se sentem seguros no lugar em que estão, de uma ponta a outra do país (quer dizer, nosso ponto mais a lesta foi Montreal e exist mais país além dali). Bom, quem já assistiu ao filme Fahrenheit 9/11 teve uma idéia disso, ao ver as portas destrancadas e a tranquilidade do canadense.

Nós temos nossas próprias histórias para contar. A primeira delas aconteceu em North Vancouver, quando fomos visitar a Capilano Bridge e a Grouse Moutain. Já na nossa primeira parada, quando estávamos passando pelo estacionamento, nos deparamos com uma placa que dizia, em letras grandes e vermelhas: "Vamos diminuir a violência. Colabore, tranque seu carro".

A grande medida de segurança deles é trancar o carro! E qual de nós por aqui já pensou em não fazer isso? Aliás, nossas medidas vão muito além disso, e ninguém precisa pedir, né? Por vontade própria, colocamos insul-film escuro no carro, tranca, alarme, além de estarmos sempre às voltas com uma nova forma de disfarçar o rádio. Lembro que quando eu tinha um carro porque usava para ir trabalhar tive o rádio roubado três vezes em menos de seis meses, quando, enfim, desisti de ter um.

A outra situação foi ainda mais interessante. Nós ficamos hospedados em Bed & Breakfast em quase todas as paradas. Para quem não sabe, são pessoas que recebem hóspedes em suas próprias casas. Em Kamloops, onde paramos no caminho para Banff, ficamos numa casa bem afastada da cidade (afastada mesmo!), que ficava à beira de um lago. O lugar era lindo, mas sem nenhuma segurança aparente.

Durante o jantar, ao longo da conversa com os donos da casa, um casal de senhores, estávamos falando de família e eu disse que meu pai ficava muito preocupado de eu estar ficando em casa de pessoas estranhas. Eu contei a eles que sempre dizia pro meu pai que os donos da casa que deviam ser cautelosos conosco, já que também éramos estranhos pra eles e, afinal, era a casa deles que estava sendo "invadida". Eles fizeram cara de interrogação e pediram pra eu me explicar melhor. Eu tentei explicar que nós tínhamos medo de receber pessoas estranhas em casa, afinal, ninguém sabe o que elas poderiam fazer. Daí, a senhora pareceu, finalmente, ter entendido e exclamou: "Ué, toalhas de hotéis são muito mais bonitas do que as minhas"! Como se o maior problema fosse alguém querer roubar as toalhas dela!!!

Diante disso, nós dois explicamos que essa não era a preocupação, mas, sim, de acontecer coisas mais graves, violentas.  E o comentário foi: "Ah, mas aí só se nos matassem porque a polícia chegaria antes de a pessoa chegar ao final da rua". O que ela estava querendo dizer é que teriam que matá-la para garantir que ela não chamaria a polícia. Para ela, jamais alguém a mataria. Ela falava e ria, como se fosse uma situação ridiculamente surreal.

Muito diferente da nossa mentalidade, não? Meu primeiro medo seria alguém me matar! E eles sequer cogitam isso. Além disso, é impressionante a confiança da sociedade na polícia, como eles se sentem protegidos. Essa relação, inclusive, nós percebemos com clareza em Ottawa. Os policiais brincavam com as pessoas, posavam para fotos, eram ídolos mesmo, sabe?

Igualzinho a nós... (E eu nem vou contar das duas vezes na minha vida que tive policiais apontando armas pra minha cabeça. Uma, inclusive, era um cerco, com carros por todos os lados, policiais e, claro, armas. Todas apontadas para mim!)

6 comments:

:= said...

Que horror essa história da polícia, hein?
Lembro-me que quando era bem pequena minha màe me dizia que se eu me perdesse na rua era para procurar um policial. Hoje a gente foge deles pq tem tanto bandido "trabalhando" como policial que vc não pode mais confiar em ninguém.
A violência é o principal motivo pelo qual não pretendemos voltar a morar no Brasil (SP).
Bjs

Sergio said...

Nos EUA eu sentia essa sensação de segurança tambem. Em Atlanta as pessoas são apavoradas com a violência mas eles não trancam os carros e as casas, largam suas bolsas, documentos, aparelhos eletrônicos jogados em qualquer lugar e não passa pela cabeça de ninguem que podem ser roubados. Com o tempo esta sensação de segurança vai nos contagiando e muda totalmente a maneira de sentir as coisas;infelizmente quem nunca passou um tempo em um lugar assim não consegue entender como faz diferença. Acho que é por isso que todo mundo se assusta tanto quando fica sabendo da nossa decisão "maluca".

Marilena

Wagner Cardozo said...

Olá! O seu site é um dos meus preferidos, acompanho diariamente.

Fiquei feliz em saber que vc esteve Kamloops. Estive lá agora em janeiro. Ô lugar bonito. Queremos ir pra lá. Será que Halifax é melhor do que Kamloops?

K said...

Jeanne: Eu não sei de quem eu tenho mais medo hoje, se da polícia ou do bandido. É uma realidade muito triste, sem dúvida!

Marilena: Quando me perguntam se eu não tenho medo de ir "assim" pro Canadá, eu respondo que eu tenho medo é de ficar assim no Brasil.

Wagner: É uma honra saber que meu blog é um dos seus sites preferidos! Tomara que eu consiga continuar nessa lista por muito tempo :)

Beijos,

K.

Cecilia Brandao said...

oi Camila,

Q horror hein??!!
A nocao de seguranca aqui eh muito diferrentre da nossa, pois os Candenses sequer imaginam o que eh uma cidade como SP ou RJ...

Procurei, procurei e achei a noticia que fala sobre a possibilidade das novas regras do processo atingirem os aplicantes a partir de marco/2008. Sinceramente, nao acho isso possivel, pois contraria a nossa legislacao brasileira. Salvo engano, em 2003, o Consulado tentou fazer isso, mas o Supremo derrubou. Porem, fazem cada coisa com a nossa Constituicao, nao eh mesmo???

abracos

Cecilia

Ana Paula said...

Quando o povo comeca a falar de violencia aqui, eu rio, de verdade. E olha que tem um povo meio histerico aqui sim, com negocio de violencia de gangs, drogas, etc... mas NADA disso se compara ao que eu vivia no Rio. NADA.

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