Sabe quando você tem tanta coisa pra fazer que bate aquele desânimo de começar? Isso acontece muito comigo quando vou arrumar a casa, por exemplo. Olho em volta e é tanta coisa pra colocar no lugar, mas tanta coisa, que penso que nunca vou conseguir deixar tudo como eu quero mesmo e que, talvez, nem valha a pena começar. A sorte é que tem dias que eu acordo com bicho carpinteiro e saio arrumando tudo o que vejo pela frente, sem pensar se vou dar conta de tudo ou não.
O fato é que estou me sentindo meio assim em relação à imigração para o Canadá. É tanta coisa para pensar, para refletir, decidir, ponderar, tanta coisa que não deve ser esquecida, que deve ser planejada, pensada, que a sensação é que jamais darei (ou daremos) conta. Normalmente, segue-se a esse pensamento a jornada que temos pela frente até chegarmos ao ponto de equilíbrio financeiro que temos hoje novamente. Vai ser um caminho e tanto, sem a certeza de sucesso no final.
Talvez se o marido demonstrasse maior envolvimento no processo e eu me sentisse menos sozinha nesse barco, nadando contra a corrente, essa sensação fosse diminuída. Sumir acho que só acontecerá quando as coisas forem acontecendo e a gente for dando conta das pedras no caminho.
Com todas as pesquisas que já fiz, eu pelo menos sei as minhas opções quando chegar por lá. Apesar de não ter a menor idéia de como vou fazer para dar conta de conciliar tudo, já tenho alguma idéia do que preciso fazer. Sei que só vou conseguir emprego em "survival job" mesmo ou, na melhor das hipóteses, com muita sorte, ser uma "administrative clerk" ou, sonhando mais alto, uma "legal secretary", que é basicamente o que faço aqui. Enquanto trabalho em alguma dessas opções, vou ter que decidir entre fazer um curso de "Law Clerk/Paralegal" ou já começar a faculdade de Direito em "part-time". Isso tudo, claro, se eu não mudar de idéia até lá e resolver mesmo mudar de área, já que vou ter que começar do zero. Fora a língua, né? Eu tenho o curso completo da Cultura Inglesa. Foram 14 anos estudando inglês, mas não é a mesma coisa. Chegar lá e lidar com nativos, fazer o trabalho que eu faço aqui, por exemplo, em inglês, acho que eu mesma não me contrataria. Um dos meus fortes é revisar as peças, ler tudo com toda a atenção e questionar cada vírgula, hífen, parágrafo. Como fazer isso em inglês?
Já em relação ao marido, eu até já tentei pesquisar alguma coisa, mas como o trabalho que ele faz atualmente não tem um título definido, eu fico perdida, meio que procurando uma agulha no palheiro. Lá no fundo, trago uma esperança de, quem sabe, ele conseguir uma possibilidade ainda daqui, através de alguns poucos contatos (aliás, isso resolveria a grande angústia de resolver para onde vamos). Tenho confiança de que ele vai conseguir alguma coisa na área com muito mais facilidade do que eu, até porque ele está muito mais familiarizado com a língua. E aí, um dia, ele me pede ajuda sobre o mestrado e eu fico totalmente perdida nos sites das universidades, confundindo os conceitos de undergraduate, graduate studies, professional courses, etc. Fico ainda mais angustiada por não ter uma resposta na ponta da língua para dar a ele.
Junto a isso tudo, ainda tem esse sonho inexplicável de ter um filho - tá bom, marido, uma filha (inexplicável por ser tão antigo, forte e constante). E imaginar quando que isso, finalmente, será possível. Algumas pessoas me falar por aí que a vida é agora e que eu não devia ficar adiando e, às vezes, chego a concordar. Mas daí a razão vem e lembro que não faz sentido algum colocar esse plano em prática agora e todo o resto a perder por uma diferença de meses, ou ano, que seja. Penso que tudo já vai ser tão complicado que somar esse fator na operação dificultará ainda mais as coisas.
Enfim, é tanta coisa desconhecida, um caminho tão longo a ser trilhado... e angustiante não saber as respostas, desde o básico até o mais elaborado. Tenho desejado demais uma bola de cristal que me mostre o futuro dependendo das decisões que tomarmos. Mas não adianta. Ainda que papai-noel exista e me traga uma de presente, em dezembro várias dessas questões estarão sendo vividas na prática.
PS: Perdoem o desânimo, deve ser o tédio aqui no trabalho. Tomara que o bicho carpinteiro me acorde amanhã. :)