Friday, February 1, 2008

Excluir para incluir?

Como vocês podem perceber, esta blogueira está de volta, ainda tentando se habituar aos esforços necessários para garantir posts diários interessantes que falem sobre o Canadá ou imigração. Diante da demora no desenrolar do processo, o assunto mais fácil - falar o que estava acontecendo conosco, se extinguiu.

Ontem voltei a ler algumas notícias nos jornais canadenses e acho que encontrei um bom assunto para esse post. Vamos a ele.

Segundo uma matéria do The Star (acho que é meu jornal preferido, até então), a "Prefeitura" de Toronto está decidida a criar pelo menos uma escola voltada para negros e, ainda, promete criar mais escolas ou criar uma única com mais capacidade se a demanda, verificada através de pesquisa, for grande. Essa será apenas uma das medidas a fim de melhorar o aproveitamento dos estudantes negros, que vem caindo.

Vários aspectos a serem comentados.

Primeiro, antes de entrar na discussão se a exclusão é a melhor forma de inclusão, acho muito louvável que eles identifiquem esse problema (baixo rendimento dos alunos negros) e busquem uma solução de verdade, e não um paliativo como acontece com nossas cotas de universidade para negros e baixa renda aqui no Brasil. Se vai mesmo resolver, só o tempo dirá, mas é inquestionável que essa medida trata da questão e não de sua consequência.

Outra informação que achei muito legal é como será definido o tamanho e a localização da escola. As famílias está recebendo, por correspondência, um formulário para que se indique o desejo dos pais em matricular seus filhos nessa nova escola. Com o resultado, eles decidirão quantas escolas serão abertas e onde serão construídas. Acho essa preocupação em atender verdadeiramente a demanda o máximo.

A grande discussão em torno dessa medida é o fato de criarem uma escola para uma parte específica da população, no caso, os negros. A primeira vista, criar um ambiente onde apenas negros estudarão não parece ser a melhor opção para garantir a inclusão deles na sociedade. No entanto, se pararmos para pensar, podemos perceber que separar para cuidar com especial atenção dos problemas que aquela classe, especificamente, enfrenta é, na verdade, garantir que eles terão mais força e identidade diante da sociedade. Seja negro, pobre, deficiente, religioso, qualquer aspecto que diferencie e que esteja causando uma questão que não conseguem resolver no meio de todos, o que há de mal em criar um ambiente só para eles? E, no final das contas, só estará lá quem quiser, quem não gostar da idéia pode permanecer no modelo que já existe.

Gostei muito da fala de Michael Coteau, um dos integrantes do Conselho das Escolas de Toronto, que, por sinal, é negro:

"For years I didn't buy into the concept (of Africentric schools) because I believed I lived in a multicultural city. But then I went to a community meeting in the northwest part of Toronto where people were talking about the idea, and they were overwhelmingly in support. Hundreds of people were speaking in favour.

And I realized multiculturalism isn't about having a standard system for everyone, but working together to make sure we don't leave any group behind.

It's about understanding the cultural challenges some students face, not suspending them.

You know, some people think the community is being demanding, but people have been waiting 30 years for this kind of school. Actually, I think we've been pretty passive."

Como já dizia Rui Barbosa, concordando com pensamentos filosóficos que existiam muito antes dele, justiça é tratar com igualdade os iguais e com desigualdade os desiguais.

3 comments:

Anonymous said...

Que bom ver o blog de volta... E o assunto do momento em Toronto é esse mesmo (sem contar a tempestade de neve que está parando a cidade hoje!).

Nosso blog também está meio parado, andamos muito ocupados e sem assunto... Mas vamos tentar voltar aos poucos.

Depois do Carnaval vamos nos encontrar, hein?

Beijos!

Andréa

:= said...

Um dos comentários durante o debate foi que os negros abandonam a escola porque ela é desestimulante, eles não têm incentivo nenhum pra ficar lá. Se assim o é, acredito que não se trata de um problema de raça, mas da escola em si que não dá nenhum estímulo para que seus alunos, negros, brancos, asiáticos e etc, queiram ficar sentadinhos nos bancos escolares. Talvez o papel da escola na sociedade devesse ser revisto e não a criação de um espaço que perpreta a segregação racial.

Sergio said...

É um assunto bem complicado. Eu particularmente costumo ser contra qualquer tipo de separação e acho que o sistema de cotas do Brasil não ajudar em nada na inclusão dos negros. Entretanto, se o Canadá dá as mesmas oportunidades para todos os cidadãos e uma parcela da sociedade não está conseguindo se beneficiar com isso, talvez uma escola separada possa ser uma solução. Uma escola que valorize a cultura negra, que trabalhe a auto estima deles e que consiga lidar com os problemas específicos que eles têm.
Por outro lado eu me pergunto se uma separação não pode gerar uma maior intolerância de ambos os lados. De uma maneira geral tudo o que é diferente desagrada no início e acho que a convivência entre crianças de diferentes raças, religioes e culturas é sempre melhor. Eu não gostaria que meus filhos estudassem em escolas onde todas as crianças são "iguais" a eles. Será que a inclusão na propria escola não seria melhor a longo prazo? Questão dificil.

um abraço,

Marilena

Mais fotos do Canadá

Notícias do Canadá | CBC

Ontario Top Stories | Toronto Star